terça-feira, 23 de setembro de 2014

O fenômeno do "Selfie" e o espelho de uma sociedade narcisista....

Recentemente li num portal de notícias que o renomado fotógrafo Sebastião Salgado estava na abertura de sua exposição "Genesis", no Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília e,  contrariado, acabou indo embora mais cedo do que desejava. O motivo: a bendita (ou maldita?) mania do "selfie" que atormenta os não-contaminados. 
Ele explicou isso numa entrevista: "há seis meses, abri uma exposição e as pessoas vinham conversar comigo, pediam um autógrafo, trocavam ideias. Agora acabou. Cada pessoa te agarra e quer tirar 'selfie'. Bota um telefone ali, é uma agressão permanente em cima de você".

De fato, não há limite. Até o velório do ex-canditato à presidência pelo PSB, Eduardo Campos, não escapou. Uma senhora conseguiu seus 15 minutos de fama ao aparecer sorrindo, fazendo uma "selfie" com o defunto ao fundo. Acho que até Narciso - aquele da Mitologia - teria vergonha de tal ato.....



O vício do "selfie" tem invertido prioridades. Tem gente que deixa de aproveitar o momento que está vivendo, para gastar o tempo em registrar a si mesmo num evento ou situação específica. Concentra-se em poses, caras e bocas, posição de cabelos, melhor ângulo.... enquanto isso o momento mágico, aquele que não volta mais, passou..... Como aconteceu com a Carolina da canção do Chico Buarque de Hollanda, quando o tempo passou na janela e só ela não viu.




Isso sem falar na invasão de privacidade. O viciado em "selfie" já pensou em perguntar aos presentes se querem figurar no seu quadrinho? Logo teremos que andar com uma plaquinha pendurada no pescoço com a inscrição: "Por favor, não me inclua no seu 'selfie'".



Na minha opinião há uma espécie de ambiguidade no uso da palavra "selfie" para tal prática, visto que a maioria das pessoas utilizam este tipo de foto para compartilhar e não para seu deleite individual. A jornalista Marion Strecker definiu isso muito bem em sua coluna no site da Folha: "O conceito de 'self' (o si mesmo) é central na psicologia e existe desde o final do século 19.  A representação do "self" seria uma construção do ego, o eu, o núcleo de uma personalidade. Mas o que há de si mesmo nesses "selfies" todos? O que há de individualidade, de subjetividade, de essência desse eu que se autofotografa para consumo externo?
Realmente, há que se pensar.....


O fato é que o fenômeno do "selfie" é um prato cheio para os mais variados estudos.  Selfies em enterros, os atuais "pós-sexo", os íntimos.... todos eles podem trazer na bagagem pequenas mensagens subliminares do oceano onde navega a alma humana. Psicólogos argumentam que as pessoas mais inseguras são as que mais tendem a postar selfies  com temperos mais sexualizados e exibicionistas com o objetivo de receber o maior número de curtidas (?) e com isso, conseguir uma percepção - falsa, é claro - de que são amadas. 
E, ao contrário do que muita gente pensa, não são apenas os adolescentes que se jogam neste comportamento.


Onde isso vai parar? Não sei. Mas tenho ficado espantada com algumas coisas. Como o caso que aconteceu com um jovem na Grã-Bretanha: viciado em tirar selfies,  ele quase se matou por não conseguir tirar a selfie perfeita com seu iPhone. 

Danny Bowman levava uma vida normal até começar com a mania de tirar muitas selfies  com seu iPhone.

Danny começou a tirar fotos nesse estilo aos 15 anos, mas foi aos 17 anos, em dezembro de 2012, que  a overdose aconteceu. Ele tirou mais de 200 fotos e não conseguia encontrar nenhuma que o agradasse, foi então que passou a tomar descontroladamente alguns comprimidos para aliviar sua tensão. "Eu estava constantemente em busca de tirar a "selfie perfeita", e quando percebi que eu não conseguiria tirá-la eu quis morrer. Perdi meus amigos, minha educação, minha saúde e quase perdi minha vida", diz Danny.


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